A ética como necessidade de cuidar da vida.
Somos raros e precisos porque estamos vivos, porque podemos pensar dentro de nossas possibilidades. Temos o privilégio de influenciar e, talvez, controlar o nosso futuro. Temos a obrigação de lutar pela vida na terra, não apenas por nós mesmos, mas por todos aqueles, humanos e de outras espécies, que vivem e que vieram antes de nós e a quem devemos favores, e por aqueles que, se formos inteligentes, virão depois de nós. Não há nenhuma causa mais urgente, nenhuma tarefa mais apropriada do que proteger o futuro de nossa espécie.
O ser humano exerce um papel determinante no ambiente em que está inserido. Ele é um ser aberto, por fazer-se, por conquistar seu mundo. A humanidade o ser humano é conquistada na relação com outras pessoas e o mundo. Diante disso, surge a responsabilidade ética como a necessidade intransferível de cuidar da vida. A ausência deste fundamento, que se define como a possibilidade da verdade dos atos humanos, põe em risco o seu próprio ser e, com ele, toda a realidade circundante.
Este cuidado com a vida faz o ser humano descentra-se em solicitude e desvelo ao outro, ao diferente. Através da dimensão do cuidado, a natureza e tudo o que nela existe passam a ser vistos e tratados de maneira diferente. Constituem-se como valores, sujeitos ao qual, o eu não deve dominar e apropriar-se de forma predadora. A relação não é domínio sobre, mas de com-vivência. Não é pura intervenção, mas interação e comunhão. Viver a dimensão do cuidado possibilita ao ser humano a descobrir aquilo que realmente possui valor, o qual se descobre a essência intrínseca às próprias coisas e sentimentos.
Pela dimensão dos cuidados, nos sentimos ligados e religados a tudo e ao todo, nossa individualidade não se fecha numa independência solitária e narcisista, mas descobre por traz de toda a realidade, com a qual se relaciona, o elo do mistério, onde tudo ganha unidade e sentido. O cuidado não é algo passageiro, momentâneo ou periférico. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. Como realidade fonte, o cuidado está na raiz primaria e no fundamento do modo de ser do ser humano. Nisso, ele é um modo de ser essencial sempre presente e irredutível a outra realidade anterior. Faz parte da estrutura constitutiva do ser humano. Desde o nascimento até a morte, o cuidado precisa estar presente. Na sua ausência, tudo perde sentido e perece.
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